Um
pouco sincero
Demais
na verdade
Respondendo perguntas de gosto duvidoso que cheiram a zinco
Respondendo perguntas de gosto duvidoso que cheiram a zinco
Respondendo
sem saber falar
Por
isso eu escrevo
Nem
por isso na verdade
Esta
é a parte não sincera que torna o texto um pouco sincero
Sinceramente?
Nem esta.
Sincero
eu seria apenas olhando para a água
Uma
lata de cerveja boiando
Pensando
no homem que a largou no rio
Espontâneo
Como
uma pomba defecando
Um
homem que eu poderia odiar
Um
homem que eu não poderia ser
Um
homem que me faria perguntas
Um
homem com cinco citações e sete conselhos
Fórmulas
talvez, não, com fórmulas ele ainda seria casado
Ele
poderia olhar para algo que eu escrevo e dizer
Você tem um bom título
Eu?
Não
sou eu
Mas
para ele é a mesma coisa
Não
é algo que realmente importa
Diferente
de cerveja barata, uma prostituta de dezesseis anos ou um carro vermelho polido
Queria
afogá-lo por dormir enquanto grito meus sonhos
A mãe natureza quase me implorava
Mas
ele tinha dois filhos
Que
ainda não bebiam
Mas
era apenas uma questão de tempo
Por
hora, jogavam as embalagens de suas guloseimas na água
E
eu lá estava
Boiando
entre o lixo
Inabalável
Pensando
no terceiro livro que escreveria
Inabalável
no meio do lixo
Boiando
Pensando
no próximo livro
O homem bebeu sua cerveja
Os filhos comeram seus doces
Sentei-me em pedra com limo
O sol se cansou de iluminar nossa torpitude
Encarregando o rio de carregar nossa vileza
Para algum lugar
Qualquer lugar
Queria ir junto
Lá olhar
Não sei nadar
Mas também não quero largar os meus sonhos na água
Tiago André Vargas
Fotografia de Zbigniew B.