quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Não sei nadar





Um pouco sincero
Demais na verdade
Respondendo perguntas de gosto duvidoso que cheiram a zinco
Respondendo sem saber falar
Por isso eu escrevo
Nem por isso na verdade
Esta é a parte não sincera que torna o texto um pouco sincero
Sinceramente? Nem esta.

Sincero eu seria apenas olhando para a água
Uma lata de cerveja boiando
Pensando no homem que a largou no rio
Espontâneo
Como uma pomba defecando
Um homem que eu poderia odiar
Um homem que eu não poderia ser
Um homem que me faria perguntas
Um homem com cinco citações e sete conselhos
Fórmulas talvez, não, com fórmulas ele ainda seria casado
Ele poderia olhar para algo que eu escrevo e dizer
Você tem um bom título
Eu?
Não sou eu
Mas para ele é a mesma coisa
Não é algo que realmente importa
Diferente de cerveja barata, uma prostituta de dezesseis anos ou um carro vermelho polido

Queria afogá-lo por dormir enquanto grito meus sonhos
A mãe natureza quase me implorava
Mas ele tinha dois filhos
Que ainda não bebiam
Mas era apenas uma questão de tempo
Por hora, jogavam as embalagens de suas guloseimas na água
E eu lá estava
Boiando entre o lixo
Inabalável
Pensando no terceiro livro que escreveria

Inabalável no meio do lixo
Boiando
Pensando no próximo livro

O homem bebeu sua cerveja
Os filhos comeram seus doces
Sentei-me em pedra com limo
O sol se cansou de iluminar nossa torpitude
Encarregando o rio de carregar nossa vileza
Para algum lugar
Qualquer lugar
Queria ir junto
Lá olhar
Não sei nadar
Mas também não quero largar os meus sonhos na água

Tiago André Vargas



Fotografia de Zbigniew B.

Featured Post

Refri de laranja para quem tem sede de sonhos e outras epifanias que cabem numa fritadeira

“Algumas pessoas só conseguem dormir com algum peso sobre o corpo, eu era assim”. Foi o que eu escutei enquanto adormecia na rodoviá...