Não
somos dóceis o bastante para as mamas.
Não
temos clareza sobre este grupo; mamíferos.
Não
jogamos no mesmo time que um humano adiposo, quem dirá de um leão-marinho.
Mas
nós também não jogamos no grupo dos humanos delgados. Homicídios, latrocínios,
fratricídios, infanticídios.
E
no meio do ano costuma sair o dissídio.
E
outros mamíferos esperam com isso diminuir os homicídios, latrocínios,
fratricídios, infanticídios e até os matricídios que eu não incluí na primeira
relação em respeito a minha mãe.
Por
pena na verdade.
Pena
é uma alternativa.
Não
este asqueroso sentimento legitimamente humano criado para justificar a culpa,
falo daquelas que escreveram outrora, das mesmas que não deixam se molhar uma
galinha. Espero que você já tenha molhado uma galinha. Talvez ajude no processo
de sermos humanos.
Na
época que fui humano costumava correr atrás delas. Dava palmadas e gritava
tentando fazê-las voar. Eu queria ver qualquer coisa voar, até mesmo uma
galinha.
E
talvez, se eu tivesse estas penas, as mesmas penas carijós, hoje eu continuaria
sendo humano. Não me exibiria pelos ares em rodopios, nem cantarolaria qualquer
canção para que homem algum me imitasse depois em assovios, mas talvez, se
subisse em algo alto, pudesse voar por alguns segundos, talvez minutos.
Não
sei o quão alto poderia voar, mas lá de cima, sei que perceberia toda insignificância
dos mamíferos e suas mamadeiras, dos seus joelhos vermelhos pela culpa, das
suas vestes neutras, dos seus olhares pragmáticos, dos seus canudos entupidos
pela semente de uma laranja.
Eu
saberia a importância de uma semente de laranja, pois bem lá de cima, é como
tudo se parece.
Mas
nós não temos penas.
O que é uma pena.
Autoria de Tiago André Vargas
Fotografia de Tracie.