A festa acabou. A música parou subitamente e uma
abelha se alojou em nossos cérebros provocando um eterno zumbido envolto de
silêncio. Nossas entranhas cheiram nicotina. Caminhamos sobre um barco em leve
movimento, errantes pelo amor à tequila. E tudo faz sentido. Completo sentido,
como um débil que paira sua mente em algum plano mórbido e desiste de pensar.
Puxa a tomada. A boca aberta e o sorriso arqueado olhando para o nada... Ver
graça de desenhos animados que passam sem som. E tudo faz sentido.
Então tentamos conversar, tentamos dançar,
desistimos de tudo e vamos para qualquer lugar fora desse barco. Minha casa ou
a sua? Não sabia que você tinha uma tatuagem. Tudo fica tão quente, tão lascivo
e tudo faz tanto sentido! Mas a água gélida não tarda a bater no corpo quase
morno para afogar-mo-nos em lacônica alegria.
Então comete-se o irreversível pecado de fechar os
olhos, uma noite bem dormida sem sonhos... E a escuridão acabou. O dia chegou.
Você abre as pálpebras com relativo esforço e nada mais faz sentido.
Você fez isso?
Não era eu. Não éramos nós. Eram apenas gravações
de estúdio para um filme futuro que estará em cartaz nas nossas mentes enquanto
apontamos para todas as insanidades com ar saudosista. “Se lembra de
quando...” Como o passado é belo no futuro.
O presente não passa de um uma refeição gordurosa
lutando para sair do nosso corpo.
Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.