segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Não conte. Não me conte.



Um, dois, três
Vejam os pequenos dedos inocentes orgulhosos por contar
Quatro, cinco, seis
Impeçam a puritana criança de continuar

Pois a mesma é demasiada jovem para perceber
A crueldade que existe no símbolo criado em suas mãos
A detentora da simples opaca bondade não irá querer
Ser mais uma neste mundo de números sem razão

Talvez tudo que possa ser contado
Simplesmente não deva ser feito
Pois enquanto estamos a mensurar algo
Deixamos de fazer outro em seu tempo

Bois, porcos, escravos, marque-os.
Corrupção, sonegação, impostos, apure-os.
Assassinatos, enchentes, acidentes, noticie-os.
Aquilo, isto e também o outro. Compre-os.

No fim não estamos a contar uma história repetida?
Enumerando tudo e a todos de forma contínua
Notas de desempenho, notas sem música percebida
Números registrados, gráficos montados, escalas de falsas mentiras

O que os números deviam dizer a respeito disso tudo?
Que logicamente é irrelevante contar o mundo
Você de 39 anos, 20 dias, 14 horas, 8 minutos e 1 segundo
Chegou o tempo não contado pedindo o rever do assunto

Esqueça quantos dias faltam para o final de semana
Esqueça quantas pessoas lhe prenderam um grito na garganta
Esqueça o dinheiro que falta para comprar um pacote de esperança
Esqueça de quantificar a vida dessa forma mundana

Eu queria que a criança não soubesse quantos aninhos ela tem
Que ela fosse si própria, inquebrantável e absoluta
Guiando-se pelo amor afastando a lógica com desdém
Enérgica em distinta passional forma de conduta

Eu queria um mundo pouco codificado
De menos ter
Eu queria um mundo apaixonado
De mais ser

Autoria de Tiago André Vargas

Foto encontrada aqui.

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