Um, dois, três
Vejam os pequenos
dedos inocentes orgulhosos por contar
Quatro, cinco, seis
Impeçam a puritana
criança de continuar
Pois a mesma é
demasiada jovem para perceber
A crueldade que existe
no símbolo criado em suas mãos
A detentora da simples
opaca bondade não irá querer
Ser mais uma neste
mundo de números sem razão
Talvez tudo que possa
ser contado
Simplesmente não deva
ser feito
Pois enquanto estamos
a mensurar algo
Deixamos de fazer
outro em seu tempo
Bois, porcos,
escravos, marque-os.
Corrupção, sonegação,
impostos, apure-os.
Assassinatos,
enchentes, acidentes, noticie-os.
Aquilo, isto e também
o outro. Compre-os.
No fim não estamos a
contar uma história repetida?
Enumerando tudo e a
todos de forma contínua
Notas de desempenho,
notas sem música percebida
Números registrados,
gráficos montados, escalas de falsas mentiras
O que os números
deviam dizer a respeito disso tudo?
Que logicamente é
irrelevante contar o mundo
Você de 39 anos, 20
dias, 14 horas, 8 minutos e 1 segundo
Chegou o tempo não
contado pedindo o rever do assunto
Esqueça quantos dias
faltam para o final de semana
Esqueça quantas
pessoas lhe prenderam um grito na garganta
Esqueça o dinheiro que
falta para comprar um pacote de esperança
Esqueça de quantificar
a vida dessa forma mundana
Eu queria que a
criança não soubesse quantos aninhos ela tem
Que ela fosse si
própria, inquebrantável e absoluta
Guiando-se pelo amor
afastando a lógica com desdém
Enérgica em distinta
passional forma de conduta
Eu queria um mundo
pouco codificado
De menos ter
Eu queria um mundo
apaixonado
De mais ser
Autoria
de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.
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