sexta-feira, 28 de abril de 2017

Greve geral




Pensa estoicamente apontando para o coração flébil
Maneiras pelas quais um mundo sólido se desmancha no ar instrumentalista
Olha com atenção o rosto de baleias manuseadas por Camus
Questionam a vida, com suas longas caudas que também parecem
Corações agudos, justamente, por serem abertos
Gostaria de se sentir mais responsável pela morte dos jovens
Gostaria de se sentir mais responsável pela rigidez do mundo
Mas chuveiros com cloro e sapatos de animais mortos te colocam em marcha
Chega às estradas obstruídas por pneus de uma fumaça muito escura
Simbolizam que o conclave ainda não chegou ao fim e nem chegará
Quer muito abraçar os pneus
Escolher um em especial, torná-lo ninho, entrar
Incendiar como um monge, ser um mártir
Contudo sabe que as ideias não possuem a densidade dos sentimentos
Não pretende ser um vídeo no youtube
Para que em 2038 uma elegia seja escrita
Por outra moça ou rapaz, tão triste como tu
Não quer que eles sintam medo ao ver os ossos do teu corpo
Percebendo que o tempo, espécie de fogo, sempre os revela
Tampouco ódio com o comentário mais curtido
Que bom seria se todo vagabundo fizesse o mesmo
Em silêncio aproveita o generoso sol que desponta na tua cidade
Quebra duas ou três vidraças
Atiça profundos instintos na máquina de oxigenação
Cassetetes empunhados por boletos te convidam a entrar em um aquário dentro do aquário
É preso, esbofeteado e te cospem no rosto barbeado
Te chamam de filho da puta e perguntam se tem merda na cabeça
Perguntam se é um retardado, um imbecil, um estúpido
Um grande leão marinho indaga, com falso interesse, onde está sua razão
E você, que mais sabe sentir do que explanar, mais uma vez aponta para o peito
Balançam a cabeça e concluem que é um fodido
Te batem ainda mais por sinceramente gostarem de você


Tiago André Vargas
28.04.2017



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