Pensa
estoicamente apontando para o coração flébil
Maneiras
pelas quais um mundo sólido se desmancha no ar instrumentalista
Olha
com atenção o rosto de baleias manuseadas por Camus
Questionam
a vida, com suas longas caudas que também parecem
Corações
agudos, justamente, por serem abertos
Gostaria
de se sentir mais responsável pela morte dos jovens
Gostaria
de se sentir mais responsável pela rigidez do mundo
Mas
chuveiros com cloro e sapatos de animais mortos te colocam em marcha
Chega
às estradas obstruídas por pneus de uma fumaça muito escura
Simbolizam
que o conclave ainda não chegou ao fim e nem chegará
Quer
muito abraçar os pneus
Escolher
um em especial, torná-lo ninho, entrar
Incendiar
como um monge, ser um mártir
Contudo
sabe que as ideias não possuem a densidade dos sentimentos
Não
pretende ser um vídeo no youtube
Para
que em 2038 uma elegia seja escrita
Por
outra moça ou rapaz, tão triste como tu
Não
quer que eles sintam medo ao ver os ossos do teu corpo
Percebendo
que o tempo, espécie de fogo, sempre os revela
Tampouco
ódio com o comentário mais curtido
Que bom seria se todo vagabundo
fizesse o mesmo
Em
silêncio aproveita o generoso sol que desponta na tua cidade
Quebra
duas ou três vidraças
Atiça
profundos instintos na máquina de oxigenação
Cassetetes
empunhados por boletos te convidam a entrar em um aquário dentro do aquário
É
preso, esbofeteado e te cospem no rosto barbeado
Te
chamam de filho da puta e perguntam se tem merda na cabeça
Perguntam
se é um retardado, um imbecil, um estúpido
Um grande leão marinho indaga, com falso interesse, onde está sua razão
E
você, que mais sabe sentir do que explanar, mais uma vez aponta para o
peito
Balançam
a cabeça e concluem que é um fodido
Te
batem ainda mais por sinceramente gostarem de você
Tiago André Vargas
28.04.2017