domingo, 29 de dezembro de 2013

Anzol



Água aflita
Duas colheres de sal
Uma de afeto
A lágrima de um boi como cereja
E uma tempestade para baralhar
Eis outro mar
Preso em fotografia descolorida no vórtice da esperança salicina que escorreu pelo tronco
Pelo dorso
De uma mulher com olhos de madeira
De um homem com olhos de capim
O céu se abre e cai um anzol
Este derrui a minhoca
O peixe
Por fim o homem
Todos vergam como alimento dos sonhos
Sonhos que nos pescam
E nem sempre nos devolvem para o mar
Ou para o suor que escoe na pele pormenorizada de quem se ama
Ondas
Amava
E um novo mar ressurge
Tiago André Vargas

29.12.2013




segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Duas linhas ninguém pode atravessar



Guinada
Contra a mão
Um aperto
Guirlanda esquecida
Sem lar é travessia
Dezembro de fome
Pináceas e intentos
Partido contra o diminutivo
Abandono do limbo
Tanto quis
Ninho
Limbo
Ninho
Agora
~
Alcatrão
Sem acostamento
Ponteiros do cinzeiro indicam
Oito e quarenta e oito para o meu amor
Afogado no calendário em janeiro
Acordou de fevereiro
Vênus de asfalto
Amarelo
E vestido sem linha
Contramão
No céu um paramedo
Para, medo
Vou vomitar de tanto rir
Nas costas dos teus segredos
No fechar do guarda-chuva no deserto
No atravessar da linha
Sem vestido
Amarelo

Eu vou
Você vem

Duas linhas ninguém pode atravessar


Tiago André Vargas

16.12.2013


Imagem de Banksy.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Zumbir e Zanzar





Eu não gosto de insetos
Insetos não gostam de fumaça
Gosto de fumaça se só,
Queimo
Desfaço-me em completas partículas no meio vento
Algo inexistente reinvento
Morrendo mais depressa para afastar a travessa
Cheia de insetos, grades e promessas
Eu
E
A fumaça também se desfaz
Desfez
No momento seguinte
Nunca existiu
Eu não gosto de insetos
Não os compreendo
Nem por isso os queimo
Me deixe zumbir e zanzar por aí

Tiago André Vargas
09.12.2013


Pintura de Leah Saulnier.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Seolhar Seuolhar





No ar
Asas
Olhar
Casas

E os dedos na janela

Olhar pelo ar
Teu olhar como lar
Até o olhar librar
A alma trincar
As asas batemos
De casa troquemos
Seolhar
Seuolhar
Peloolhar
Quenãovejo
Os olhos cero
E um beijo
Sem lábios
Desabrocha
O silêncio

Silêncio

Os dedos querem muito conversar

Tiago André Vargas
01.12.2013

Pintura de Edward Hopper.

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