Marisa
empunhava violão, dedos oleaginosos de verão, ativista em mister do ressequido
imo. Sem amor é mais fácil compor, supôs, impôs, um dedilhado correu pelo vazio
da sala enquanto girava sua face, esperançosa que a música pudesse trazer algo,
canto de sereia em cordas de aço, ventilador ligado como a base de um new age insueto.
Sua
voz aguda. Um livro do Abreu destacado, grifo amarelo sobre astrologia e sexo
despudorado nas luzes que cortam a noite em fatias. Marisa queria compor uma
música sobre o mar. Sem amar é fácil falar do mar. Nos dias de menor sentir
maior filigranar.
Sentiu-se
gárrula.
Diapasão
no gritar mar. Súplica equórea. Estende-se vogais. Entende-se em linhas gerais
do não pensar.
Do
compor um torpor dos dedos calor, Marisa era a nuca que se despedia do
silêncio. Jogava pelas paredes claras os sons como se fossem cartas, aleatória
em leve crescer de angústia e sonoridade, prelúdio da dor mais intensa antes do
cessar.
Saiu
da sala.
Foi
estender roupas.
Por
fim nada perpetuou: nenhuma letra rabiscada, nenhuma música memorada. O que não
pode ser lembrado, alguma vez existiu?
O
ventilador por ela enamorou cantando única nota sabida. Reverdeceu-a por alguns
instantes, depois se manteve sozinho na sala negando com a cabeça, incrédulo
por estar só.
Máquina
alguma podia ventilar aquela dor.
Voar
para compor Marisa era coisa de tempestade abraçada em calmaria, sem tomada,
tombada nos braços de um amor que nada cria.
Vida
estendida no sol do fim do dia. Fugaz compor a dor.
Ventilador
diz que não.
Ventila
dor diz que sim.
Tiago André Vargas
26.01.2014
Imagem de Guillermo.