segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A consolação da filosofia - Boécio




Não quero fazer resenha. Reescrevo o trecho, deste belo livro, que mais me tocou:

“Que rédeas tem em suas mãos a Natureza Soberana,
Por que leis ela preserva,
Em sua sabedoria, a imensidão do mundo
E retém cada coisa por seus liames
Indestrutíveis: Eis o que decidi te mostrar
Num claro canto e com minhas tênues cordas.
Os leões cartagineses podem sempre estar presos
Por exuberantes correntes, comer diariamente
Das mãos do homem e temer, pelo hábito,
Receber seus golpes, ameaças de seu mestre;
Mas se o sangue vem tingir sua temível goela
Eles, antes tão passivos, retomam seu caráter
E em brados sonoros reencontram sua natureza.
Libertando-se e rompendo suas cadeias,
A primeira vítima de suas presas sanguinárias
E de seus arroubos furiosos será o próprio domador.
O pássaro que saltitava entre os galhos
No alto da árvore é pego numa gaiola;
Mesmo se bebidas adocicadas com mel
E farto alimento lhe são oferecidos
Pela mão amigável e traiçoeira do homem,
Ele vem saltitando em sua gaiola
E, ao ver a sombra deliciosa das árvores,
Dispersa com suas patas o alimento
E não cessa de chorar desejando os bosques
E de cantá-los com sua doce voz.
O caniço, submetido a uma forte pressão,
Curva até o solo a extremidade de sua ponta;
Mas se o braço que o curva faz menos força
Sua ponta leva-o diretamente para o céu.
Febo diariamente desaparece nas águas da Hespérida
Mas, por um secreto caminho, reconduz seu carro
Ao habitual ponto de partida.
Todas as coisas procuram buscar suas origens
E, ao reencontrá-las, contentam-se;
Elas não suportam um percurso durável
Senão aquele que liga o fim à origem

No processo de um ciclo inquebrantável.”

À esquerda o homem representa Boécio, esperando pela execução, quando em "sonho" surge a mulher segurando um livro em uma mão e na outra um cetro. Essa mulher é a Filosofia, que vem consolá-lo, iluminá-lo, libertá-lo. À direita, a Roda da Fortuna e a sua natureza de fazer subir o que está abaixo e de descer o que está acima.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Voragem



Eu olho para o abismo
O abismo olha para mim

Nietzsche foi uma fenda
Quinze anos se passaram
Os anos só passam em dezenas
Nos meus doze teus dois esmiuçaram

Olhos
Com o tempo
Lavei minha inocência
Nas paredes do abismo
Bati-a na incapacidade de amar
Abandonei-a seca na ausência do dever cívico
Morta como uma estrela do mar sobre a bandeira
De areia
Na expansão da nação
O último abraço

Cônjuges
Com julgue
Conjugam
Eu crime
Você castigo
Depois inverte
O precipício
Da pele

Se o vale fechar
Com um beijo
Masturbo o azar
De quem fomos
E quem seremos

Tiago André Vargas

05.02.15


Acervo pessoal. Viagem de moto para Cambará do Sul. Dois dias que pareceram duas vidas.

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