quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Estouro




Teus olhos de osteoporose
Circundando
Certo óleo quente
A estourar pipocas
Próximas de pombas
E outras
Aladas tristezas
Imundícies escondidas em
Lilases lembranças
Sua barriga virou
Um relógio
Crescendo junto com
O tempo
E a cinta
Apertada dois furos além da justiça
Era a mais perfeita demonstração do teu
Medo da morte
Eu queria acreditar em algo como
O espiritismo
E afirmar com certa
Convicção
Em 2153
Que transei com você
Ao som de Bartók
Um pouco tarde demais
Um pouco cedo de menos
Dentro de um
Quem nem eu
E você
Acreditávamos
No amor
E comíamos
Pipocas
Como pombas sem asas
Olhando
As luzes de outros carros
Transpassando nossa nudez
Simbiótica
Um estouro abafado
O sol no outro dia
Iluminando uma nuvem de formato oval
Para alguma criança achar
Graça


Tiago André Vargas

30.11.2016



sábado, 12 de novembro de 2016

Nascidos




Mordi suas tetas
Depois aspirei
Cão que arfa é mais cão
Assoprei
A saliva álgida no halo nacarado
Era
Um copo de vidro esquecido na sacada

O médico imaginário do prazer sorria
Com escárnio
Olhava-me como um pai morto
Minha ação o torto legado

Esta ordem categórica
Foi uma vantagem
Que eu carreguei na boca
Para lutar contra o amor das mulheres de olhos profundos
O médico disse
Menos recônditos
Menos perigosos
São os olhos das tetas
Sou alquebrado
Por natureza
Incapaz de encarar os olhos da leveza
Mordia, aspirava e assoprava os olhos das tetas
Na inocência
Que passaria despercebido pela alma

Ventou forte entre meus lábios
Evitei as conhecidas janelas
Mas rasguei as cortinas do meio
Surpreso
Notei
Mordia, aspirava e assoprava seu peito
Aberto como um livro
Exposto como um copo esquecido na chuva
Outro caminho em mesmo destino
A água que dentro de si ficava
Era a alma

Sua alma sentiu frio
Está junto com a minha
Na sacada
Enroladas em um chambre vermelho
São filhotes
A minha parece não ter boca
A sua parece não ter olhos
Ninguém sabe o que serão quando crescerem

07.09.2015
Tiago André Vargas



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