Nesta
noite
Ela
não quis falar
Com
o tecido do rosto inchado
Com
suas vestes de linhas curtas
Com
seus sonhos violados
Com
seu manual de conduta
Ela
escondia algo na boca estufada
Uma
chave
Um
apito
Miolo
de pão
Tédio
Lã
Amor
próprio
Ele
não viu
Nesta
noite
Toda
noite
Sempre
noite
Ele
quis falar
Da
maneira como se salva uma vida
As
invisíveis pontilhadas linhas
Escabrosos
esboços de término e partida
Seios,
abacates, rodeios e alquimia
No
rádio
Alguém
grita
Tangerina
E
a dor do tamanho de um ônibus estaciona no peito dela
Amanhã
tinha feira
Algo
deveria ser feito
Pulso
e banheira
Sexo
sorrateiro
Ele
não sabia
Ela
só sentia
Sua
boca cheia de sonhos e sementes de melancia
Não
queria falar
Seria
feio cuspir o banal
Seria
pecado proferir a fantasia
Ninguém
salvou a vida de ninguém
Se
pudesse, diria
Se
pudesse, cuspiria e viveria
Nessa
ordem
Só
que hoje ela é jovem
Ninguém
vive enquanto é jovem
Vive-se
uma promessa do viver
A
boca cheia
Horizontes
Sementes
Escárnio
do tempo que não deixou de voltar
Nada há para ser dito
essa noite
Tiago André Vargas
Imagem de Berk Öztürk.