Já
fui olhos. Já fui água. Já fui dança. Já fui brasa.
Acostumei-me
ser feixe de luz para viver no clarão e dormir seguro.
Achei
que não precisava devolver, como tantas coisas.
Depois
das páginas viradas. Reviradas. Arrancadas. Escritas somente no verso,
amassadas e largadas na rua principal de uma cidade secundária, pisoteadas por
pés terciários.
Catarros.
Bitucas.
Um
poema que escrevi sobre quadriláteros.
Alguém
sente esperança.
Já
fui esperança.
Já
fui água.
Mas
agora eu tiro do bolso da minha camisa o entardecer. Certa pompa. Como outrora,
sendo dentes, fiz com bolas de gude.
Só
que hoje eu sou água.
Água
salgada.
Fora
do mar.
Lágrimas
sem choro. Molhado estou por dentro apesar de sentir-me tão seco.
Já
fui seco.
Mas
agora é hora de devolver o entardecer.
Depois
da vida tanto brilhar para mim.
Depois
de tudo que fui nem a sofreguidão de subir uma escada assegura-me que realmente
fui algo. Mas eu tenho um passado. Sinto. Como é possível sentir o vento.
Mas
agora devolvo o entardecer.
Grato
pelo brilho que me coube.
Permito
algo.
Que
troquem o canal.
Que
roubem meus talheres.
Que
rejeitem meu amor.
O
sol se foi, agora é só uma questão de tempo.
Tanto
faz.
Palavras.
Ponteiros.
Rodas.
Cartas.
Vasos.
Flores
e sanitários.
Retorno.
Volta.
Outra
volta.
De
volta.
Em
volta.
Devolvo
o entardecer para cair a escuridão no tempo de ser o que me cabe.
Novamente
abraço minha sombra e junto com ela me desfaço.
Tiago André Vargas
Imagem de Gustavo Pastrana.
Foi como se você tirasse de dentro de você, colocasse em uma pequena caixa e transferisse cuidadosamente tudo pra dentro de mim. Simplesmente ótimo André, parabéns!
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