sábado, 26 de março de 2016

Escolha, consciência e a alma dilacerada – Aristóteles



Aristóteles

Passagem do livro Ética a Nicômaco, escrito em prováveis 350 anos antes de Cristo:

“Os incontinentes, que escolhem, em lugar das coisas que eles mesmos julgam boas, outras que são agradáveis mas perniciosas; enquanto outras pessoas ainda, por covardia e indolência, se esquivam de fazer o que consideram melhor para elas próprias. E os que cometeram muitos atos abomináveis e são odiados pela sua maldade esquivam-se à própria vida e destroem a si mesmos. E os maus buscam outras pessoas com quem passar os seus dias e fugir de si; pois lembram-se de muitos crimes e preveem outros semelhantes quando estão sozinhos, mas esquecem-nos quando têm companhia. E, não possuindo em si nada de louvável, não sentem nenhum amor por si mesmos. Por isso, tais homens tampouco se alegram ou sofrem consigo próprios; porquanto a sua alma é dilacerada por forças contrárias, e um dos elementos que a constituem, em razão da sua maldade, sofre quando se abstém de certos atos, enquanto a outra parte se rejubila, e uma delas o arrasta numa direção e a outra na direção contrária, como se o quisessem esquartejar”.

26.03.2016

Textos Não Tetos

sexta-feira, 18 de março de 2016

Mnêmico



Na paz
Vez por outra
Inspira-se
A contingência
Da paz

Na guerra
Vez por sempre
Expira-se
A demência
Da guerra

Na primeira
Via pulmão
O decolo
Da razão

Na segunda
Pelas mãos
O sufoco
Morte irmão

17.02.2016
Tiago André Vargas


Fotografia de Brent Stirton.


domingo, 6 de março de 2016

Papai via longe, muito longe – Louis Ferdinand Céline



Meu pai, com medo de que eu desse para ladrão, berrava como um trombone. Só porque, uma tarde, eu tinha comido todo o açúcar do açucareiro junto com Tom. Nunca se esqueceram daquilo. Ainda por cima, eu tinha outro defeito, andava sempre de bunda suja. Não me limpava direito, não tinha tempo. A minha desculpa é que a gente estava sempre com pressa… Também me lavava sempre mal, pois tinha medo dos tapas que me esperavam se eu me atrasasse e que eu queria evitar… Por isso corria… Deixava a porta do banheiro sempre aberta para perceber se havia alguém por perto… Fazia cocô como um passarinho, entre duas tempestades…
Subia aos pulos para o outro andar, não me achavam mais… Ficava com merda no cu durante semanas. Eu reparava no cheiro, não chegava muito perto das pessoas.
“É sujo como um porco no chiqueiro! Não tem respeito próprio! Nunca vai conseguir ganhar a vida! Todos os patrões que tiver vão despedi-lo logo”… Para ele, o meu futuro era uma bosta…
“Que fedor!… Não é que vamos acabar tendo que sustentá-lo!…”
Papai via longe, muito longe. Ainda repetia, insistindo em latim, “Sana… corpore sano”… Minha mãe não sabia o que responder.

Morte a Crédito, Louis Ferdinand Céline, 1951.

06.03.2016

Textos Não Tetos

Louis Ferdinand Céline

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