Meu
pai, com medo de que eu desse para ladrão, berrava como um trombone. Só porque,
uma tarde, eu tinha comido todo o açúcar do açucareiro junto com Tom. Nunca se
esqueceram daquilo. Ainda por cima, eu tinha outro defeito, andava sempre de
bunda suja. Não me limpava direito, não tinha tempo. A minha desculpa é que a
gente estava sempre com pressa… Também me lavava sempre mal, pois tinha medo
dos tapas que me esperavam se eu me atrasasse e que eu queria evitar… Por isso
corria… Deixava a porta do banheiro sempre aberta para perceber se havia alguém
por perto… Fazia cocô como um passarinho, entre duas tempestades…
Subia
aos pulos para o outro andar, não me achavam mais… Ficava com merda no cu
durante semanas. Eu reparava no cheiro, não chegava muito perto das pessoas.
“É
sujo como um porco no chiqueiro! Não tem respeito próprio! Nunca vai conseguir
ganhar a vida! Todos os patrões que tiver vão despedi-lo logo”… Para ele, o meu
futuro era uma bosta…
“Que
fedor!… Não é que vamos acabar tendo que sustentá-lo!…”
Papai
via longe, muito longe. Ainda repetia, insistindo em latim, “Sana… corpore sano”…
Minha mãe não sabia o que responder.
Morte
a Crédito, Louis Ferdinand Céline, 1951.
06.03.2016
Textos Não Tetos
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Louis Ferdinand Céline |
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