quarta-feira, 12 de junho de 2013

Você vai saber meu nome





Sente só.
Sinta só.
(EU JÁ ESCREVI ISSO?)
Ela só respondia não.
Não.
Acordando sem o coração no terraço de um prédio em construção.
Um aglomerado obrando, partidas dúzias quebrando, rezando, luzes entrando nos meus cabelos sem cor.
O tempo não precisa de um martelo para fazer doer.
É só uma questão de.
Mas essa noite é longa amor, você não pode impedir que te chamem de amor, mesmo sem amor, amor, é tão bom dizer amor que se inventa amor, se distrai amor, se escreve amor, poesias amor, músicas amor, caralho do tesão é o amor, puta língua de fogo se esfregando na alma falar amor. Tanto se fala que ele aparece, às duas da tarde no sábado interrompendo a faxina e arrancando as cortinas.
Luzes entrando na minha cabeça.
Prazer, amor.
E você acorda sem o coração no terraço de um prédio em construção.

Você vai saber meu nome.
Quando subir o letreiro.
Quando fugir com o leiteiro.
Sabe, não era bem isso também.
No quinquagésimo aniversário que NUNCA viria.
Ele veio.
Faça um cozido com o meu peito.
Todas essas luzes.
Apaguem essas luzes.
Meu nome não importa.
Mas você vai saber meu nome.
Prazer.
Amor.
Dor.
Prazer Amor Dor.
Três nomes.
Já matei algumas pessoas e agora é a sua vez.
Me chame como quiser.
Evitar?
Como assim amor?
Que gotejante dor essa meândrica com prazer em baldes quentes?
O contrário?
Dorme amor.
Em sonho você vai balbuciar meu nome.
Algum nome.
Você já sabe meu nome.

Tiago André Vargas

12.06.2013


Imagem de Billie.

Um comentário:

  1. Sabe, um dia me peguei pensando sobre o ato de escrever, sobre o que faz nos tornar escritores. Ao ler teu texto, que tenho de dizer, coisa mais encantadora que eu li nestes últimos dias, eu refleti novamente sobre isso. Não sei e também não posso vir aqui afirmar que teu texto é algo "autobiográfico", longe disto, mas eu passei a refletir sobre a dor impressa nele. E pensando nisso, nesta minha primeira impressão (que continua após ler 5 vezes), vou deixar aqui um pequeno trecho que eu escrevi após minha reflexão do que é ser escritor. Abraços!

    "A alma de um escritor não tem fim. Apenas começo e meio. Na trama de uma prosa ou melodia de uma poesia, as linhas exalam um tom profético, outrora apenas desejos que martelam incessantemente nos pensamentos de quem já foi criança, isenta de malícia e qualquer forma de maldade. Penso simplesmente, que se eu não escrever, eu vou enlouquecer. Terei olhos dançantes de mulher louca. Ao privar o homem de seu vício, dá a ele os primeiros lapsos de embriaguez tresloucada, causada pela abstinência daquilo que mais ama. No primeiro momento em que sentir-se livre de sua privação, trancar-se-á no universo que tanto ama. Como disse um amigo meu, escrever, além de prazer e vício, “também é dor e sofrimento”.
    E pegando um reflexão de uma leitura de Vargas Llosa: escrevo porque sinto saudade…

    Ana Idris

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