Arthur pediu um
chope. Sábado quente, cintura pélvica flertando com a cadeira plástica, mãos
despreocupadas, olhadela no quadro insignificante de um cavalo pendurado
torto na parede. Decoração ruim é reconfortante.
Que gostoso tudo isso, pensou, apesar de, pensar que gostoso era tornava menos
gostoso. Prazer é não pensar, esticar as pernas, umedecer a herpes labial com a
ponta da língua e esperar pelo chope.
Esperar por algo.
Esperar por algo te
leva a pensar, não fosse isso, a espera seria o nirvana.
Arthur, infelizmente,
devaneou mundo adentro: Chope se bebe acompanhado. Sozinho, Schopenhauer.
Acompanhado se fala. Os animais não falam; se comunicam com seus zumbidos,
grunhidos, relinchos, latidos e provavelmente não se compreendem, apenas
sentem. Se expressam ao sentir e escutam para sentir. Quando o homem faz algo
parecido? Pensou Arthur. Quando escreve, ou lê. Poesia, preferencialmente.
Poesia absurda que fala sobre gafanhotos em chamas sobre o saco escrotal de um
homem apartidário. Isto é um relincho solitário em pronúncia e audição. Tudo
porque inventamos uma língua lógica em um mudo razoável e a emissão de sons
indecifráveis ou a pronuncia de palavras que não constroem coerente utilitário
entendimento é vigorosamente repudiada, padres e psicólogos são rapidamente
chamados e com suas valises tentam consertar esta símia sinfonia.
Contudo, a língua
escrita aceita sofismas e outras torções, até mesmo a contestável loucura.
Tudo, porque é feita sozinha. Na solidão aproxima-se de algum eu petiz pouco
interessado em julgamentos, correções. Estar só é nudez sem dedos. Dois passos a
entrar em algum canteiro com gramado cheirando arte, perfume voyeur, nada de
intromissão.
- Seu chope, senhor.
Arthur bebeu o chope
vigorosamente. Pode sentir a cevada rodopiando na infecção do lábio, um
deslizar gelado, goela, goela, goela, gemeu quando terminou o copo, da maneira
que aprendeu nos comerciais.
Prazer.
Sentiu vontade de
conversar com alguém, mas não tinha amigos. Nem gostava de conversar, pouco
sabia como fazê-lo. Olhou os arredores, não havia ninguém sozinho. Olhou para
a pintura do cavalo. O cavalo estava sozinho. Anotou um recado na agenda que
sempre carregava consigo, fechou-a escrupulosamente e caminhou até o dono do
bar com visível repúdio (olhava de esguelha o dente de ouro do comerciante). Entregou-lhe
uma nota sem dizer nada.
- Até mais ver, Schopenhauer.
Arthur fez um gesto
qualquer com a cabeça.
Meu sobrenome é Poças, seu filho da puta.
Saiu do bar com a
língua pousada no lábio, surpreendeu-se com um rato que corria para uma boca de
lobo.
Arthur fez um gesto
qualquer com a cabeça.
Estava na hora de
aceitar o amor como meta e parar de pensar.
Pensou.
O que é o amor?
Tiago André
Vargas
11.08.2013
Imagem de Lauren
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