quinta-feira, 14 de julho de 2016

Silente



Quando o dia se mostra cinza
E os besouros negros copulam sem fazer barulho
É que eu me lembro melhor de você
Como agora

A aurora do passado é uma tatuagem no baixo-ventre
Na escuridão dos pelos púbicos, um estetoscópio nostálgico adentra
Inspira (já fui a segunda criança no balanço mais alto)
Expira (o rosto da madrasta em silêncio, o sotaque da novela de época conversando com demônios que respondiam no corredor)

As agulhas nunca encontraram minhas veias
Tampouco você
O besouro goza na armadura da memória
Voa mais leve, mais rápido, explode em um vidro qualquer

Eu escuto o barulho e olho pela janela
O dia está cinza. É você?

Tiago André Vargas

14.07.2016

Acervo pessoal.


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