sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Neve azul




Corro incandescente por entre as árvores petrificadas
Eu não tenho rumo, o desespero é minha morada
Ergue-te! Fútil atroz que descansa sobre a gelada
Não percebe que o movimento é a causa da jornada?

Lanço-te as melhores lições, aquelas que não sigo
Te mato por ser fraco e depois me contradigo
Tua fraqueza reflete a minha e isso eu não admito
Alguma espécie de remorso carrego como castigo

Tudo é frio e azul durante a caminhada
Meus pés doem, apodrecem durante a escalada
Persigo fielmente o desconhecido neste tipo de caçada
Onde algo parecido com um homem, procura algo parecido com o nada

Chego no topo e não tenho surpresa
O que encontro é a tristeza de ter conquistado aquilo que se almeja
E por defesa, falsa justifica, presenteio-me com proeza
Sentado no topo como um rei morto a ver todos sem realeza 

Meus pés brincam sobre o precipício desbotado
Sentado na beira deste abismo, visão em loco dentro do vácuo
Desolado e amargo, como criança a brincar com os sapatos
Formando com os pés algum tipo de movimento inexato

Enquanto que minhas canelas giram nesta dança macabra
O vento frio, rígido e estupefato de dor se propaga
Um homem na rua suja divaga, outro no mar limpo naufraga
E o que sobra sou eu e a neve azul que me esmaga

Obrigado neve azul. Por nada.


Autoria de Tiago André Vargas



2 comentários:

  1. Velho li esse poema, a faculdade de ser mau e a serpente de prata. Cada um é um tipo diferente de escrita, mas todos são de muita qualidade! Gostei muito mesmo. Parabens.

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