Às vezes eu me acordo, em noites penosas que custam
tanto a passar... Cobram um pouco da nossa vitalidade, como uma espécie de
suborno para a luz voltar e assim, um novo dia surgir. Nestes dias eu caminho
até a cozinha e na ponta dos dedos alcanço o copo largo de whisky, não que eu
queira beber, esquecer, foda-se. Eu gosto daquele copo porque o gelo dança
dentro dele. Igual minha mente. Eu e meu copo de whisky com água e uma pedra
torta de gelo girando, dançando, derretendo, sumindo, atravessando a madrugada.
Copo.
Copo.
Eu olho através do copo com água e às vezes,
algumas vezes, pelo sono ou pela insônia ou pela vontade de dormir ou não, pelo
total desinteresse do dia seguinte parece, enfim, que eu posso ver meu futuro.
Ou...
Eu gosto de olhar pelo copo com água para ver minha
imagem refletida às avessas. Uma lembrança da infância, um cheiro de fruta
vermelha, um copo quebrado seguido de choro, uma surra injusta pela travessura,
pipoca no colo da avó. O que mais?
É como voar sem combustível, no embalo.
Os olhos pairam mortos sobre a cortina estampada
que não combina com nada, a mão compulsiva e senil fazendo pequenos movimentos
circulares, mas com estilo, e você voa.
Para onde você vai? Lá importa. Desde a lembrança
de quem é você, imagem mais limpa que o reflexo da água, desde quem será você
e, assim espero, que a imagem seja turva o suficiente para a emoção e nítida o
bastante para sua motivação.
Copo na boca. Grandes goles. Copo na pia. Amanhã
tenho que acordar cedo.
Autoria
de Tiago André Vargas
![]() |
Foto encontrada aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário