O
tempo é uma lobotomia constante para suportarmos o tempo.
Lorca
viajando para Madrid ainda é um sino na minha mente. O poeta mente. É o que
pensa quem não consegue ninar o amor enquanto mina sua essência mais nobre no
dente afastado ao vestir-se de luto para atravessar um milharal e, escondido no
sabugo, alguém ama a menina até descobrir sua vileza. Fica nos pés apenas a
coceira fomentada pela solidão, remédio sim, remédio não.
Na
meninice meu mundo estava no segundo andar de um pé de goiabeira. Meus pés já
eram tortos, apesar da ausência do pruído, e a casca lisa do tronco sempre me
acolheu meio amante, meio filho. Em estulta adultícia achei que o amor ficava
em alguma parte do nada que o vento sacode, árvore frutífera que raio não tem
ímpeto de tocar na mesma ojeriza do olhar atravessar a fruta caída pelo pecado
de reviver quem requestou ninho em nosso sozinho e agora é só um moído puído de
baixo da unha que raspa o cabelo na procura do sentimento que nunca esteve lá.
Amores
morrem de cabeça para baixo nos galhos do passado, secos no asco de nunca
despencar e sumir. Leia novamente, eu disse passado. O tempo é lobotomia. Paixão
é fogo em pau velho, depois nada sobra, exceto nascer de amor, se houver amor é
semente de bergamota cuspida para cima.
Para
cima.
Meus
pés tortos querem ir para cima.
Há
uma goiabeira de olhos grandes lá em cima. Nada além eu conheço, mas me conheço
no curioso piado de coruja descobrindo o que está encoberto pelo não acontecer.
Se
for, morrerei.
Finado
por ausência.
Meu
inventário é tão raso quanto um vidro quebrado: Sombra da nuvem para você
lembrar que vivo, sentindo mais perto de si outra companhia já que a ausência
está nestas palavras de janela sem vista, só existe a provocação do instante e você
lembra que no peito há alguém do outro lado.
Se
a nuvem carregar chuva, sou eu.
Tiago André Vargas
20.01.2014
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Pintura de asahinoboru |
Talvez tenha sido tu o anarquista, prefiro assim:
ResponderExcluirFica nos pés apenas a coceira
fomentada pela solidão,
remédio sim, remédio não.
Em estulta adultícia achei
o amor ficava em alguma parte
do nada que o vento sacode
a fruta caída pelo pecado
Reviver quem requestou ninho
em nosso sozinho e agora
é só um moído puído
Amores morrem de cabeça
para baixo nos galhos do passado.
e
ResponderExcluiro vento
que
carrega a nuvem
sou eu.