Trovejou
no céu um tambor carregado de ódio terreno.
A
lebre assustada rezou. Uniu as patas untadas de orvalho e, olhando o céu
plúmbeo através dos círculos concêntricos de uma teia sem sua artífice, indagou
quantos graus eram necessários para uma nuvem desistir da equação.
Aquela
lebre tremia com a agudeza sonora que lhe entrava nas grandes
orelhas impolutas no vórtice da solidão, não raras vezes, escutando o estalar
do tempo na alma dos pinheiros. Girava ritmicamente seu pequeno crânio, cada
curto e rápido movimento era acompanhado do pensado Onde está? Onde está? Onde está? E, quando fechava pausadamente os
olhos, concluía: o meu lugar…
A
lebre librava imprecisa a sua vida. Como a outros tantos seres acontecia, soterrada
pelas variáveis líquidas que nada mais são que cegos escafandristas, pegadas
leves na areia marina que a emoção move, remove, comove e desfaz, atônita e
aflita, a lebre singrou e nada pesou na analítica balança temporal. Trovejou a
equação. Cortou o pensamento de maneira incisiva com os precisos incisivos.
Dividiu
o pensamento.
Pediu
por amor.
Trovejou
no céu um tambor carregado de ternura terrena.
Um
pássaro bardo do signo de libra disse à lebre para librar o sentimento até
livrar o medo e lavrar a promessa. Ela não entendeu. Ele beijou-a com seu bico,
sutil como a lembrança de algo que não aconteceu. Ela pediu uma música. O
pássaro fez melhor. Construiu um ninho em uma das grandes orelhas e a lebre não
mais librava, afirmava com a convicção dos pinheiros que as nuvens eram
solidárias com as equações de primeiro grau, quando puras como as emoções de primeiro grau.
Dividiu
o medo entre trilados e trovões.
Cada
orelha um destino.
Desfez
a teia, seguiu caminho.
Tiago André Vargas
04.05.2014
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Imagem de Seth Fitts. |
Levou meus pensamentos para uma dimensão que jamais pensava em existir....
ResponderExcluirEsta dimensão é bela, Itala, assim como o seu comentário. Fiquei feliz em lê-lo.
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