segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Doces e outras feridas em um dia nublado




Eu arquei com o peso da tua arcada dentária
E os outros arcos do teu corpo
Lançaram uma flecha de significado para o alto
Que furou a perna de uma nuvem gorda
Ela está agora ao meu lado
Na fila do plantão vinte e quatro horas
A nuvem me pergunta se tenho moedas
E olha com prazer e remorso para a máquina de doces
Faltam vinte e cinco centavos
Para comprarmos a pior porcaria que era vendida
Digo para ela fechar os olhos e pensar em açúcar
Logo ela toma uma postura nublada
Eu corto um dos meus dedos
Não abra os olhos!
Eu o coloco na sua boca
É uma bala muito dura
Que vai demorar muito tempo
Para derreter
É açúcar
E morango virgem
E outras coisas cítricas
Como o sangue doce e imbecil
De um grande inseto com pensamentos doces e imbecis
Ela sorri
Seu rosto parece um tempo aberto
E seus lábios vermelhos
Trovoam nos olhos do próximo da fila
O médico
Ao perceber que esqueceu seu guarda-chuva
Fura a fila
E a chama em seguida
Eu
De saída
No dever cumprido da minha vida esquecida
Antes de cruzar a porta
Sou visto por uma enfermeira
Que com tédio e zelo
Olha para o meu dedo
Ou sua ausência
Perguntando se eu quero um curativo
Qual é meu adjetivo preferido
Se meu olho é esquivo
Se quando limpo os meus pés o faço de um modo expressivo
E se meu sangue é positivo
Negativo
Eu respondo que é lenitivo
Saio pela porta
Chupo meu dedo
Ou sua ausência
Invencível como um bebê de mil anos
Faço do meu coração um arco
E me projeto para o alto
O significado que você nunca alcançou
Acerto em cheio uma nuvem nunca vista

Uma tempestade se aproxima
Com grande calmaria
Do outro lado do mundo

T. A. Vargas

04.12.2017



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