Meu nome é Carlos. Eu sou segurança de um shopping
center. Mas um segurança de shopping center não é o que sou. Sei que não
consegue acreditar nisso, mas, enquanto você sai pelas portas que se abrem com
sensor de movimento eu olho para você e sinto compaixão, mas tanta, que quase
brota uma lágrima no meu olho. Isso acontece porque eu queria que você fosse
especial, mas dona, você é mais uma cópia do que eu vejo saindo a todo o
momento por esta porta. Meu nome é Carlos, basta olhar para o crachá. No teu
pescoço tem ouro e tantas outras coisas que brilham, mas não vejo nenhuma
sequência de letras que forme um nome. Em meu quadril tem uma arma, sou
segurança, veja por você mesmo. No seu tem um cinto cuja a fivela é importa do
Congo, a produção é Indiana e barata, mas só essa fivela... São 2 meses de
salário dona. E as minhas mãos... Ficam na cintura, eventualmente, ficam na
arma quando alguém eu quero impressionar, transmitir segurança. Eu sou
segurança dona, não olhou ainda o meu crachá? As tuas mãos carregam coisas,
tantas coisas que talvez a alça plástica da sacola machuque sua mão delicada.
Uma das sacolas é de mercado. Queria poder ver teus olhos escondidos nesses
óculos escuros... Mas de qualquer forma, eles não olhariam para mim. Acho que
moças são ensinadas a desviarem os olhares de homens, tem dias que nenhuma
mulher me olha nos olhos... Já os homens olham, sempre para as mulheres que não
olham. Eventualmente um homem me olha nos olhos porque não tem nenhuma mulher
por perto, então, nos dois não temos para onde olhar... É quase uma troca mútua
de solidariedade, afirmando “Que lugar de merda esse hein?”. A moça entrou no
carro... Soltou a sacola e balançou a mão, provavelmente comprou fruta. Fruta
pesa. Sabia que ela iria machucar a mão. Um ré cuidadoso... Quase demais...
Pronto. Alinhou o volante e partiu. A porta de sensor está fechada. Abriu! É
uma mulher. Gostei do colar de prata. Você usa sandálias... Tem uma boca
voluptuosa... Meu nome é Carlos, eu sou segurança, mas segurança, não é o que
sou.
Autoria de Tiago André Vargas
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