Vida,
vida, vida.
Eu
usei palavras ruins para descrever o cotidiano, depois apaguei-as. Notei que
ele descreve-se sozinho e além do mais, mesmo que a sopa esteja realmente fria,
ainda restam palavras para escrevermos algo na beira do prato.
Portanto
não vamos falar dos conselhos. Muito menos das sentenças. E principalmente das
disputas por pena, definitivamente, não das batalhas para ver qual unha está
mais encravada e ter como prêmio um queixar-se a vontade.
Quem
sabe algo mais puro para iluminar todos corações aflitos neste junho de pouca
saliva, enquanto algum garoto que escreve uma carta de amor será baleado por
algum garoto que encontrou uma arma no armário do pai. Mas mesmo que existam
armas, ainda existe água para sair de seus canos no desfecho épico pouco cômico
de um desenho antigo que não vemos mais.
Mas
solte a música que eu quero dançar. Neste mesmo lugar onde ninguém dança e
ninguém da à mínima para quem dança. Nem para nada, na verdade. Falo daquela
garota! Daquela menina, puxa vida, descobri-me fã dela, no sentido mais
verdadeiro possível. A propósito, quantos anos teria minha heroína que dança
sozinha olhando para os próprios pés como se estivesse no salão de algum
palácio enquanto sua mãe passa o leite no caixa do supermercado? Idade
suficiente para ser ela mesma, pensei.
Ela
dança como se estivesse em algum tipo de transe, sua mãe ficaria preocupada se
a visse dançando assim anos mais tardes, principalmente com Ramones ao fundo...
Mas... Que mal tem? Deixe a menina dançar, deixe ela esbarrar nas pessoas que
erguem suas sacolas com lasanha congelada para não bater nela, deixe ela dar
aquele passo engraçado com a perna para trás enquanto o senhor de cara feia
para seu carrinho cheio de vinho preocupado que ela quebre algo.
Aquela
é uma abençoada garota com dentes de leite que acabou de cair tonta de tanto
girar enquanto sua mãe lhe ergue constrangida dos olhares reprovadores dos
compradores de pão, queijo e presunto. Talvez a mãe gritasse com ela, mais para
demonstrar as pessoas ali presentes que ela lhe dava algum tipo de “educação”
através da reprovação, mas por Deus, a nossa heroína sorriu e podemos ver a
falta de ambos incisivos em um sorriso moleque de quem girou tanto que caiu de
bunda no chão do mercado. A mãe somente a ergueu, sorrindo também e assim a
heroína se foi.
Talvez
devêssemos perder uns dentes de vez em quando também.
Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.
U-au! Que amor!!
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