Pedro havia cortado laranjas, se beijado no
espelho, mas mesmo assim; nunca se sentia pronto para dar um passo adiante
quando segurava as mãos de Taís. Taís tinha a boca carnuda envolta para o
mundo, flor que abrochou e voltou suas pétalas para si, presente de berço, menina
sapeca de vestido solto e dentes pequenos escondidos nos lábios que
sobressaiam.
Pedro poderia ter treinado, seria em vão, quando a
doce menina tomou aquilo que tanto queria ele nunca pensou que sentiria isso.
Nunca pensou que por trás de dentes haveria prazer,
que entre mucosas haveria amor e que aquilo que tanto lhe afligira em fazer
certo, não tinha jeito certo. E que o gostar por si só fazia ser do jeito
certo, o gostar fazia os lábios se darem às mãos e dançarem em ritmo, harmonia
perfeita.
Ingrid sempre se interessou por culinária, sempre
ficou satisfeita em provar sabores distintos e igualmente em proporcionar esta
experiência nos outros. O olhar meticuloso a cada reação de seu convidado após
a primeira garfada. O olhar meticuloso ao rosto de seu amado enquanto a beijava
de olhos fechados. Se ele deixasse o olho aberto, para ela perdia o sabor, já
ela, trapaceava. Era por entre os lábios que Ingrid alimentava seu corpo e
também por entro os lábios que alimentava seu coração.
Uma mulher que tem o coração alimentado. Como é
belo ver isso. Sem inveja do homem que a possui do seu lado, inclusive
felicitações a ele, pois quando ele a acorda com um afago nos cabelos e a beija
com amor depois do café, aquela mulher sai para trabalhar e por onde passa,
deixa algo de si. Algo de bom. Você olha para uma mulher e dois segundos bastam
para você saber se ela é amada, e isso, deveria inspirar.
Amanda e Tadeu se beijando na praia, beijos falsos
enquanto a amiga de longe tira fotos com a máquina de Amanda. Na hora poderia
ser um beijo falso, mas o sentimento não era. Anos depois, não mais juntos,
Tadeu olhou para aquela foto e quase pode sentir seu pé na areia molhada pela
onda e ela nos seus braços, seu perfume de sempre misturado com o cheiro do
mar. Fechava os olhos e sentia sua boca ao encontro dela, como um barco
ancorado balançando devagar sobre as ondas.
Augusto e Isadora. Isadora é uma mulher com todas
as letras, anos de casamento, anos de convívio paulatinamente apagando a
paixão, mas ela os driblava com seus beijos inesperados. Augusto poderia lhe
dar uma lista de duas páginas com todas as qualidades de Isadora que os fizeram
estar juntos depois de tantos anos, mas o que lhe fazia amar ela ainda, era a
forma como ela o beijava inesperadamente depois de ficarem 30 minutos sentados
um ao lado do outro em pleno silêncio no banco de uma praça. Augusto não sabia
disso. Mas Augusto sentia isso. Todo beijo inesperado era um cutucão no coração
“Ainda te amo”.
Declaração, motivos, razão, prós e contras,
comparações, justificativas. Às vezes, é melhor ausentarmos, deixarmos nossas
bocas a sós conversarem a sua maneira e ver o que elas irão decidir.

Autoria de Tiago André Vargas
Postado em 08.02.2011
Escrito não se sabe quando
Sooo sweet :D
ResponderExcluirGostei muito dessa conversa das bocas!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSimples, perfeito.
ResponderExcluirUm beijo Tiago!