quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crianças armadas e adultos com máquinas fotográficas

Guerra.
Homens como formigas em suas roupas pardas se alastrando enfileirados por escombros, ganhando território estratégico e circunspecto, libélulas metálicas cuspindo fogo e assombro pelo céu, besouros de esteiras e rolamentos avassalando tudo em seu caminho.
Simples como a natureza há de ser, imbecil como o homem há de ser.
Diferente da essência dos seres que regula o equilíbrio natural pelo motivo magistral chamado sobrevivência, o homem não age às avessas? Não seria melhor abandonarmos a arrogante diferenciação pela racionalidade e assumirmos que nossa distinção está na capacidade de agirmos sem propósitos? Errado, os propósitos existem, nada racionais, mas existem. O que diferencia os homens do todo talvez seja a malévola inquietude e a desprezível indiferença.
Houve mais um disparo, contudo ninguém foi ao chão. Ao invés da morte a máquina agora empunhada perpetuou a existência do alvo em uma fotografia triste que jamais deveria ser revista, lembrada... Existida.
A criança indiferente a contagem dos calendários romanos, maias, hebraicos, mulçumanos, inerente a própria existência pois existem crianças de todas idades, elas puxam o gatilho. Criança inquieta. Puxa o gatilho.
Já o homem igualmente inerente aos anos que carrega sobre os cabelos fracos tenta sobrepor algo, mas é frágil demais. Uma música para mudar o mundo, uma escrita para inundar sentimentos puros, uma fotografia para humanizar, mas somos indiferentes, lembre-se, tocamo-nos profundamente por um intervalo esmiuçado e fracionário para no momento seguinte lamentarmos sobre o pão e circo cativo que nem vale a pena ser descrito.
Você vai olhar para a fotografia abaixo e por um momento sentir compaixão. Em meia hora estará brigando com louças que infinitamente precisam ser lavadas.
Não importa, eu parabenizo o fotógrafo, pois toda a existência e os períodos históricos definidos ou até mais antigos me parecem um intervalo, do mesmo modo a própria vida como é conhecida que não passa de um suspiro e se conseguirmos por um momento fazer a diferença, como diria um arrogante militante: Missão cumprida. A pessoa atingida pela arte desta fotografia talvez eduque uma criança algum dia e esta brincará com leveza, a pureza que lhe compete na inocência de querer ser feliz.
Que ela cresça, mas que isto nela se mantenha. Chega de armas.

Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.

Um comentário:

  1. Belo texto! Lembrou um vídeo que vi outro dia sobre uma fotógrafa de guerra. Vou mandar o link http://xucurus.blogspot.com.br/2012/03/o-espetaculo-do-horror.html

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