Passagem
do livro Sobrevivente (Survivor - 1999), Chuck Palahniuk:
(...)
O
cabelo dela parece que foi colhido num campo e empilhado na cabeça dela para
secar.
"Ele
chegou a te contar do cruzeiro em que ele me levou?"
Não.
"Foi
totalmente ilegal."
Ela
olha da Catacumba número 678 para o teto, de onde vem a música, dos pequenos alto-falantes
ao lado das nuvens e dos anjos pintados.
"Primeiro,
ele me fez ter aulas de dança com ele. Aprendemos todas as danças de salão, o chá-chá-chá,
o fox-trote. A rumba, o swing. A valsa. A valsa foi fácil."
Os
anjos tocam sua música acima de nós durante um minuto, dizendo algo a ela, e
Fertility Hollis ouve.
"Me
dá", ela diz, virando-se para mim. Então ela pega as minhas flores e as
dela e as coloca encostadas na parede. Ela pergunta: "Você sabe dançar
valsa, certo?".
Errado.
"Não
acredito que você conheceu o Trevor e não sabe dançar valsa", ela diz e
balança a cabeça.
Na
cabeça dela ela tem a imagem do Trevor e eu dançando juntos. Rindo juntos.
Fazendo sexo anal. Estou com essa desvantagem, isso e a ideia de que matei o
irmão dela.
Ela
diz: "Abra os braços".
Eu
abro.
Ela
fica bem diante de mim e coloca uma mão atrás do meu pescoço. Sua outra mão segura
a minha mão e ela estica o braço, à nossa lateral. Ela fala: "Pegue sua
outra mão e coloque em cima do meu sutiã". Eu obedeço.
"Nas
minhas costas!", ela diz, e se desvencilha de mim. "Coloque a sua mão
sobre o meu sutiã onde ele cruza a minha espinha dorsal."
Eu
obedeço.
Para
nossos pés, ela me mostra como dar um passo adiante com meu pé esquerdo, depois
com o direito, e depois colocar os dois pés juntos enquanto ela faz o mesmo na
direção contrária.
"Esse
é o chamado Box Step", ela ensina. "Agora preste atenção na
música."
Ela
conta: "Um, dois, três".
A
música vai. Um. Dois. Três.
Contamos
várias vezes, dando um passo a cada vez que contamos, e estamos dançando.
As
flores em todas as catacumbas por todas as paredes se curvam sobre nós. O
mármore corre liso sob nossos pés. Estamos dançando. A luz entra pelos vitrais.
As estátuas estão esculpidas em seus nichos. A música sai fraca dos
alto-falantes e ecoa pelas pedras até que começa a ir e vir em ventos e
correntes, em notas e acordes ao nosso redor. E nós estamos dançando.
(...)
06.12.2015
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Fotografia de Markus Probst. |
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