domingo, 3 de fevereiro de 2019

Quando o espaço entre os teus olhos adormece um caminho






Quando nos disseram que estava amanhecendo
Nós dois olhamos para cima

Havia uma grande dificuldade em darmos as mãos
Como se elas fossem países
Com profundas desavenças históricas
As pessoas à nossa volta
Assustados flamingos
Partiram
E eu toquei teus dedos tatuados com um gesto de concórdia
Para que todas as gerações da nossa superfície
Pudessem viver em paz

Nunca te disse, mas
Eu deixei os buracos da persiana abertos
Para que alguma luz do amanhecer
Pudesse tocar o seu corpo
Para que alguma luz do amanhecer
Pudesse tocar o meu olho
Espinhos no teu ombro
Um gato me arranhou aqui
Tocando
O coração

Pedaços de som despertos
Produziram uma leve chuva de cristais em nossa cama
Como quem quebra uma lâmpada
Agora
Era preciso se mover com cuidado
Através dos sonhos

Obrigada
Você esticava a última vogal
Obrigadaa

A distância entre os teus olhos comportava um espaço adequado para beijar
Um beijo sem desejo
Um beijo em forma de dedo
Cutuque leve
Na porta de entrada de alguma percepção
Nessa mente curiosa
Que dançava como uma serpente drogada
As associações possíveis com o meu nome
Sobre a necessidade de se dar um nome
Ter um nome
Saltando rapidamente
Um bote
No anonimato de tudo
Ao contemplar um gato amarelo
Escalando uma árvore

Ele se parece com você
Ele só quer brincar e ver as coisas

Você sorriu
Sem jamais saber
Se aquilo era um elogio
Ou uma forma educada de
Dizer adeus

03/02/2018
Tiago André Vargas


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