Infância.
Caminha
ao lado do celeiro o menino de roupa velha com remendo em um joelho. Caminha o
menino, chutando pequenas pedras que surgem em seu caminho, fantasiando gols
marcados em campeonatos que nunca existirão. Caminha sozinho o menino a espelho
da própria humanidade.
Solitário,
desleixado, suas roupas em berrante desarmonia. Seu coração calmo como um
aquário sem peixes. Assim caminha o menino, assim o pensa que faz. Limita-se a
erguer o braço e tocar com a mão a grade do celeiro enquanto passa, produzindo
algum som impreciso que aos seus ouvidos era belo.
A
grade acabou, a mão no ar pairou e o silêncio se fez. Silêncio confuso que
brotava no seu dedo anestesiado.
Caminhou
mais um pouco e distraído quase pisou em uma fruta. Uma fruta podre. Uma fruta
podre como a vida.
A
vida não é lânguida como uma fruta madura, nem repulsiva como a fruta verde. A
vida é uma fruta podre. Uma laranja em meio ao capim alto revelando seu
brilhante amarelo. Você a pega do solo, gira entre os dedos e percebe do outro
lado seu bolor azulado. Do que adianta sua beleza se está podre não é mesmo?
Bem, é preciso ter fome.
É
preciso ter fome de viver para colocar os dentes um pouco antes à casca mofada
e abocanhar tudo que nela há de bom. Fome o suficiente para fazer seu corpo
tremer.
O
garoto olha para a laranja, nota que está no chão e passa por ela.
Sem
fome você passa pela vida. Um pé após o outro. Passou.
Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário