E
assim ele fora traído, com uma imagem imaculada e um invólucro de carmim. Assim
ele padeceu perante os outros de mesma veste, tentando escrever com a mão
ferida alguma palavra inusitada para causar admiração.
Débil.
Assim
4 séculos correram enquanto o homem permanecia jogado ao chão, humilhado, sujo
e decomposto sendo encarado. Seus amigos? Eram. Era. Não.
Por
fim ergueu-se como um cego tateando a multidão, causou repúdio, perdeu o
escoro, caiu no escuro. Fez algo, logo o interesse fora desviado e todos se
afastaram. Ninguém mais lhe olhava porque lá ninguém mais estava.
Ergueu-se
só, os pés desnudos encontrando amparo na terra árida, seus pés numa dança de
movimentos curtos, testando a mesma, ganhando sua confiança. Um cascalho se
aloja entre seus dedos semi-inertes.
Espira.
Equilíbrio.
Sentiu
as costas da mão. Apertou-a. Fez do próprio corpo fruta madura jorrando suco de
amora. Dor. Este era ele, traído, sem saber o que fazia.
A
dor lhe disse: “Abra seus olhos”
Viu-se
torto derretendo sob o deserto com um abismo há alguns passos.
Correu
aos tropeços sem confiança enquanto aprendia a caminhar, o corpo perpendicular
ao solo, o corpo violando a física, o corpo fugindo do próprio corpo como um
quadro surreal ganhando vida. Um grito de fúria e desistência, um grito de
resiliência, um grito senil aos tropeços rígidos flagelando matéria para o
abismo.
Tudo
seria uma obra falha que jamais seria notada, não fosse à perna deformada que
em contato com a quina lânguida deu o último e único impulso rumo à nuvem
laranjada e o homem traído deforme implodiu-se em nada, virou duas asas e cegou
a menina que lhe apontava enquanto rumo ao sol voava.
Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.
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