Ana
para no corredor. Subitamente estancou a base do pé calçado em uma meia que
quase a fez deslizar. Mas ela parou.
Parou
no corredor, em frente à porta do quarto dele franzindo o cenho ao captar o
cheiro embriagado de sexo. Olhou aquele rapaz de apelido engraçado jazendo com
suas nádegas brancas para cima. Exausto. Depois reprimiu-se por ter pensado que
fez sexo. O correto era dizer que tinham feito amor. Espere um pouco, amor foi
o que eles realmente fizeram. Um relatório surgiu paulatinamente em sua mente,
como uma folha saindo de uma impressora velha:
Acabei
de trair a mim mesmo.
Deixei
você entrar na minha vida com esses sapatos inconvenientemente límpidos e agora
estou contigo.
Contigo.
E o
que acontecerá quando eu voltar?
Quando
meu eu voltar e exigir explicações a respeito das minhas explicações dadas a
respeito das explicações por você solicitadas?
Traí
a mim mesma. Terei que comer meu próprio adultério com uma colher de chá
enquanto assistimos a um filme ruim cheio de efeitos gráficos.
Traí
você. Traí você por estar demasiada apaixonada por mim mesma. Agora não suporto
minha própria companhia quando estou junto com você. Minha mãe sempre disse que
três é demais.
Ana
vestiu sua calça, colocou a blusa do lado avesso e foi embora. Afinal, o que
mais ela poderia fazer?
Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.
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