domingo, 27 de novembro de 2011

Me acabo

Deitado sobre um lago de travesseiros olhando para o céu mudo, o mesmo céu vadio que não tenta se comunicar, eu esperava pela minha morte lenta e sossegada como de todo falso herói.
Eu não sentia nada, apertava-me o corpo dormente e nada acontecia... Respirava fundo em vão na falsa certeza que a própria vida ainda me acompanhava.
Mas toda noite de sábado é uma puritana sem roupas íntimas com os dedos cruzados para ser violentada.
Te busquei.
Eu não faço ideia do porque nem das circunstâncias que me levaram até você, mas agora que minhas narinas correm pela camisa que carrego inspirando o teu aroma sobreposto ao meu, sinto-me abençoado por algum Deus de amor.
Antes olhava para cada corte do teu espesso lábio pensando que minha vida poderia correr por estes valos, pensando que tipo de covarde eu seria ignorando a beleza existente em um momento que faz nosso coração jorrar anfetamina para as estrelas continuarem miúdas aos que não tem olhos.
Eu quero celebrar a sós este momento que carrego comigo. Eu quero cantar uma música velha para o cidadão estacionado ao meu lado até ele partir com medo da minha insensatez. Eu quero te carregar nos braços e beijar-te o suficiente para sentir o efeito do tempo nessa mucosa vermelha que se abre sorrindo para mim. Abrir com meus dentes os córregos dos teus lábios... Carnudo é uma palavra tão pequena... Sempre será depois de hoje.
Inferno! Assista enquanto me acabo nesse teu beijo que queimou meus frágeis alicerces deixando-me desabrigado, gritando sobre uma chuva fina para você nunca ir embora, nunca soltar-me! Beba comigo tudo que eles possam trazer porque essa noite será histórica para a escória que eu costumo pintar em paredes brancas.
Eu me acabo, me acabo, auto-destrutível em meu desprezível corpo preto e branco, minha linda, eu queria reinventar esse mundo para que você pudesse colocar seus pés nele.
Eu estava morto. Você apertou meu coração com os dez dedos enquanto sorria. Agora me cante uma música triste, segure minha mão com a tua que queima, faça amor comigo necessariamente em um dia líquido, escravize-me em alguma cela mas não se esqueça de deixar a chave sobre a porta, pois eu estou assustado, eu estou vivo, eu tenho um sorriso estampado no rosto... Eu estou grandiosamente acabado.

Autoria de Tiago André Vargas
Foto encontrada aqui.

2 comentários:

  1. Eu não consegui colocar em boas palavras a sensação que me causou. Isso foi tão romântico e deliciosamente não-romântico ao mesmo tempo.

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    1. É uma satisfação saber que passou por aqui Lola, obrigado pelo recado.

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