Respirou
fundo
Embriagou-se
com aroma de gasolina
Sentiu
fome
Direcionou-se
a pastelaria
Nenhum
par de olhos o recepcionou
Sentou-se
Preocupou-se
em ninguém olhar
Não
queria ver rostos
Faces
Todas
diferentes, mas, o que se faz com isso?
Abaixou
a aba do boné e pediu um café preto
Sem
açúcar
Detestava
açúcar
Uma
farsa doce bem-vinda
Preferia
a verdade amarga
Sorriu
de leve
Sabia
que o próximo momento seria doce
Sincera
docemente
E
doce seria somente este até o final do dia
E
doce seria somente este até o final da vida
Do
bolso da camisa retirou uma fotografia
Havia
o rosto de uma menina
Abraçando
o sorriso de uma mulher
Mãe
e filha
Palavras
que não devem ser escritas sozinhas
E
o pai?
Este
aguarda pelo café
Que
lhe recorda que a vida é amarga
Terminando
avisa que deve ir para a lida
E
logo segurando a bomba de gasolina
Saúda
o cliente perguntando tão triste
Qualquer
coisa a respeito do clima
Este
nada fala
Nada
se fala
O
combustível termina
O
motorista se vai
Carrega
consigo o bom dia
Do
homem dos maus dias
Que
a cada abastecida leva a mão a camisa
E
sente dobrada a fotografia
Bem
como seu coração
Completa?
Pode completar.
Autoria de Tiago André Vargas
Fotografia de Eleanor Rigby.
Parece até que senti o aroma misturado do café com a gasolina.Aquele cenário de posto.Fui tentando compreender a história que se construia por cada versos acrescentado.Acho tão digno notar que uma pessoa que normalmente se camufla atrás do dia-a-dia,sendo apenas peça do cotidiano,tem algo além,um enredo,um enlace,um sentir.Um segredo ritualístico,guardado no bolso como uma fotografia,que serve como combústivel para a vida.
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