Esponja
de aço.
Mesopotâmia
significa terra entre os rios.
Tigres
e Eufrates.
Tigres
e Eufrates.
Algo
autômato dentro das mais profundas redes cognitivas. Oculto, rançoso, como uma
túbera. Mas Daniela não tem nariz de porco.
Itália.
Daniela
não tem nariz de porco.
Tigres
e Eufrates.
Mas
Daniela está com a sua cabeça de tamanho usual repleta de redes cognitivas
apoiada sobre os dedos. Dedos tão incomuns, cheios de espuma.
O
que acontece é que Daniela tece esta rede ansiando lembrar-se para sempre que
Mesopotâmia significa terra entre os rios.
Tigres
e Eufrates.
Não
para sempre, só até o vestibular.
Duas
crianças saem para a rua estrelada, ambas carregam pratos com pares de talheres
levemente engordurados.
Uma
se agacha à margem do rio Tigres.
Outra
do Eufrates.
E
ambas esfregam com seus dedos tão comuns a louça castigada. Elas não pensam o
que significa Caxias do Sul. Mas gostariam de ter espuma para ajudar no simples
trabalho.
Daniela
terminou de estudar.
Lavou
sua louça.
Não
teve nenhuma pergunta no vestibular sobre a Mesopotâmia ou o rio Tigres e muito
menos o Eufrates. Tampouco Caxias do Sul.
Ela
passou mesmo assim.
Caxias
do Sul.
Um
dia, depois de tantas luas minguadas e de louça recém lavada, Daniela
perceberia algo que jamais estaria escrito em um livro de geografia: Caxias do
Sul sempre será a mesma. E mesmo que mude, não será para ela. Mesmo que ela se
mude, esta cidade lhe acompanhará, sussurrando em seu ouvido esquerdo.
Não fujas, é tarde, tanto faz.
Quebrou
um prato.
E depois colheu os
vidros.
Tiago André Vargas
Imagem de Lazlo Hollyfeld
Caxias nunca mudam...
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