terça-feira, 2 de julho de 2013

Menino carente




Eu desço descalço do palco pisando em um domingo sem mel
Me pego pulando de vagões pelas quartas e quintas meninas
Pelas terceiras e segundas feiras com frutas maduras de cordel
Voando sobre arrogantes ideologias vesânicas sem rimas

Você é menino carente - toda mulher um dia mãe dizia
Você tem gosto de couro de serpente – fala a fera impávida
Você quer ouro de tolo em barcos de pássaros sem vida
Você quer mamilo, carinho, diminutivo e luta armada

Tudo pra ontem
Tudo pra hoje
Nunca pra sempre
Nunca pra nuca que não me revela os olhos que desejo ver
Sem ser
É assim que sou

Carência pela essência
Mulher pela cintura
Desejos sem clemência
Amores e pinturas

Eu sou menino carente
Caminhando sozinho
Futuros escuros em olhos reluzentes
Futuros claros em olhos de colírio
Eu fecho os olhos
Você não sabe nada a meu respeito
E isso é pecado
Minha carência é um desrespeito
Com gosto de beijo chorado
Salgado
Gatos e quartzo
O mundo pelo vidro do berçário
Amores distantes olham a sinaleira
Amores tão próximos carregam suas ementas
E eu sou só carência
De toda essência
Meu respiro é desejo de arrepio indesejado
Carente de surpresa
Carente de não ser carente
Infame arrogante excitado te comendo na sobremesa
De colher e guardanapo
Ou a boca chupando o assoalho
Só um menino carente
Da implosão de todo amor que houver nessa vida
Só um menino que não mente
Ao querer ser teu no ensejo de você ser minha na mais completa sincera mentira

Um menino carente
Não sabe o que quer
Quer o que não sabe
Só sabe o que sente
Sente o que não quer
Quer o que não sente
Um menino carente
Escondendo os dentes
Louco para sorrir

Tiago André Vargas
30/06/2013



Imagem de Andy.

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