- Fico contente que
minha banda preferida tenha feito um som sobre tangerina. Eu amo suco de tangerina.
Meu predileto, sem dúvida.
Deveria escalpá-la enquanto dormia, dançar com meu
corpo besuntado de óleo ou coisa que o valha e lhe retirar o tampão do crânio
com o mesmo desânimo que se abre uma lixeira, entretanto, lá estaria as maiores
preciosidades. Desnecessário retratar o incômodo oriundo do rachar do crânio,
penso em machadinhas nesse momento, pois se usasse um machado provavelmente não
lhe amaria, contudo uma machadinha era a resposta, sim, um machado de porte
menor, este seria perfeito para uma demonstração de utilitário amor. Onde eu
quero chegar? Nos miolos. No cérebro em formato de noz. Tocaria nos filamentos,
flertaria em separá-los como gomos de benditas tangerinas. Para que tanta
desgraça, ou ainda sujeira, alguém diria. Não é para jogar um pedaço da própria
carne a um abutre amarelo, dançar no gelo com sobrancelhas loucas, ter que
lavar panos e enganar a polícia. Não é nada disso. É para compreender.
Compreender onde está à magia que faz uma mulher que suada cheira tão bem
declamar com olhar sonolento uma frase nem tão original, mas absolutamente
inesperada, sobre tangerinas. Esqueça as tangerinas. Sobre poesia. Fazer de uma
música uma fruta, uma fruta um sabor, um sabor um prazer, um prazer um calor
que me sobe pelo ventre e me dá vontade de matá-la. Contudo decidi amá-la.
Roubei-lhe o copo de
suco e mandei três goles vigorosos. Estendi meu corpo sobre a mesa espatifando
o açucareiro enquanto lhe beijava a boca que lançava vergônteas na minha alma
através do gosto de tangerina que se esvaía no constante roubar de saliva e
desejo. Um dia haveria mil anos entre nós, mas hoje eu sou o seu rei e ela é
minha rainha.
Tangerina, tangerina.
Tiago André
Vargas
Nenhum comentário:
Postar um comentário