quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ninguém dança Blues. Ninguém escuta chuva.



Muitas pessoas no mesmo lugar, mais próximas do que o habitual. Nem desejo nem espontaneidade. Chuva.
A chuva caindo ritmada como dedos de um baixista, errantes na tentativa de fecundar o solo, batendo de cara no asfalto ou qualquer coisa de cor sóbria, morta.
Todas narinas vermelhas puxando indiferentes o vento gélido enquanto aguardam pelo seu ônibus. Sentindo o perfume da água escoada pela cidade cinza. Como alguém lavando o peito para limpar uma dor que está no coração.
Um grande cardume vivo dentro de um enlatado sobre rodas chega e alguns se vão.

Sabe me dizer se o ônibus da linha 5 já passou?
Acabou de passar.
Bosta.

Esses dizeres quebram o silêncio e mais nada. Ninguém diz nada. Sardinhas pulando dentro do enlatado.
No canto da parada havia mais espaço, um mendigo de casaco marrom ali estava e ninguém queria ficar muito perto. Ninguém sabia se o casaco era daquela cor ou se estava sujo. Ele tinha o mesmo perfume da chuva que caia sobre as caneletas, mesmo quando não chovia.
O mendigo exauriu sua respiração, como se um médico invisível tivesse lhe dito “Expira” e em seguida abriu seu casaco de cor indefinida e sacou uma harmônica.
Correu seus lábios sobre ela como se estivesse a satisfazer a mulher que mais amou, fez música e com a chuva se transformou encanto. Todos olharam para ele. Como se um peixe estranho tivesse surgido em um mar de sardinhas. Ele morde? Não. Todos voltaram a olhar para o nada esperando o enlatado gigante. O Blues continuou tocando, a chuva de fundo, e, inexplicavelmente, tudo começou a fazer um perturbador sentido por ninguém visto.

Sabe me dizer se o ônibus da linha 6 já passou?


Autoria de Tiago André Vargas


 Foto encontrada aqui.

3 comentários:

  1. 8. “As máscaras...”
    Para F.R.R e “Separações” publicado em outubro de 2009 pela Editora “Casa do Novo Autor”

    Você me ensinou o caminho... Agora estou tirando todas as minhas máscaras.
    É por você, é para viver este sentimento...
    As máscaras caem, deixe-as cair.
    Não temas! – Grito.
    Máscara da falsidade... cai.
    Máscara da aparência... cai...
    Máscara da hipocrisia... cai.
    Máscara da morte... cai.
    Resta a outra face solar.
    Meu rosto, minha alma.
    Meus poros.
    Estou limpo para você.
    Deixe as máscaras caírem.
    Segure em minhas mãos...
    Juntos.
    Caminharemos e venceremos a maior guerra que está por vir!
    Permita-se...
    Livre, com amor, livre.
    Não tenhas medo...!
    Grite. Sinta.
    Vamos viver.
    Venha, fuja.
    Se você me ama, vem cá...
    Eu largo tudo por você
    Pelas forças do amor e
    Paixão...
    Cai mais uma máscara.
    Quebra as máscaras.
    Fica sem máscara.
    Sou tua verdade. E você é meu destino!

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  2. Inspirador Tiago. Parabéns!

    "O Blues continuou tocando, a chuva de fundo"

    Outdoor de Ocasião

    Maiquel Oliveira

    ResponderExcluir
  3. Será que,aos poucos, deixarei de ser uma cega que vê?

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