segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luto


Eu sabia que tinha que escrever isso. E acabei de decidir que terei que publicar isso. Será em um blog estúpido muito aquém dos sentimentos futuramente explanados, é verdade, mas talvez mude o pensamento de uma pessoa que correr os olhos sobre ele. Então haverá de ter valido a pena.

Cerca de uma hora atrás eu terminei de assistir um filme: 21 gramas. Sexta-feira eu costumo alugar um filme e como hoje estava chovendo, pareceu indubitável. O filme é ótimo. Em determinado momento revela que toda pessoa antes de morrer perde 21 gramas. O peso de um beija-flor. Eu fiquei com isso na cabeça.
Meu telefone residencial tocou e um amigo me convidou para uma festa de aniversário, aceitei o convite e estávamos conversando quando meu telefone celular tocou. Isso foi a mais ou menos meia hora atrás em relação ao presente momento em que bato estas teclas com as pontas de meus dedos.
No celular era o meu pai. Meu pai nunca me liga. Ele disse que meu avô faleceu.
Isso não é ficção, por mais que eu gostaria. Infelizmente hoje eu não estou escrevendo através de um personagem. Se você for próximo meu, talvez nos próximos dias fique sabendo, mas de fato, foi isso que aconteceu.
Então meu pai desligou o celular e eu voltei para o telefone fixo onde meu amigo esperava na linha. Aturdido com o choque da informação eu não sabia bem o que pensar, ou dizer... Lhe contei e disse que não poderia ir mais. Agradeci pelo convite mesmo assim.

Engraçado isso.

Em um segundo eu ria de coisas supérfluas, despreocupado, e no outro eu estava invadido por uma melancolia taciturna. Fúnebre.

21 gramas. O peso de algumas moedas de 5 centavos.

O mesmo celular que durante a tarde recebeu a ligação de um estúdio fotográfico falando que as fotos de minha formatura cheia de sorrisos estaqueados estavam prontas, toca mais tarde para esta notícia que honestamente me deixou de rosto fechado.

E eu que sempre odiei escrever algo que deixasse alguma impressão minha aqui estou, de olhos lustros em frente à tela. Talvez por isso sempre houve fascínio em ler-se diários, são sinceros e translúcidos, tão verdadeiros que quase por natureza se tornam pecaminosos.

Hoje eu me coloquei no lugar de meu pai e sofri através dele.

Independente de religiões ou credos, acredito que exista absolvição para aqueles que se arrependem e em seguida agem. Bem, aproveitando o tom de confissão, eu me arrependo principalmente de não ter dito até então algumas palavras para meu pai. Palavras que talvez ele não disse para o seu pai. Três palavras, como pode se imaginar. Talvez por orgulho, distância, gênios diferentes... Mas eu me arrependo. E eu gostaria de agir. Mas... Simplesmente parece impraticável. Portanto eu selo este texto com uma promessa: Amanhã, quando estivermos vestidos com roupas sóbrias velando o corpo do meu avô eu lhe direi isso. Te amo. Somente isso. Da forma mais desconexa e absurda. Toda essa espontaneidade que existe no término de uma vida me fez perceber que esperar pelo amanhã ou pela ocasião perfeita é o mesmo que esquecer-se.
Pois a vida é um presente que apenas no presente se revela. Fica com Deus nono Vargas.

Tiago André Vargas

4 comentários:

  1. Pois é, eu pensei a mesma coisa e falei pra minha mãe que amava ela, durante a missa. Abraço ae

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  2. Nossa, que texto forte e belo!
    21 gramas, para mim, foi também perturbador. Como a vida - e a morte - também o são.

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  3. É mais fácil falar para quem amamos o q não gostariamos,do que falar o que gostariamos.
    Espero sinceramnete que tenha tido essa coragem(se é que posso dizer assim)de falar não só o que prometeu,mas falar tudo o que gostaria.
    Meus pêsames!

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  4. Sim, caro leitor anônimo, falei o prometido e junto com isso vieram outras coisas, impossíveis de conter e igualmente muito bem vindas. Obrigado pela mensagem.

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