terça-feira, 3 de abril de 2012

Pupila sem compêndio

- Por que você me olha assim?

Lança-me um quebra-cabeça de 8 mil peças e pede que seja montado em 20 segundos. Trato sem tato. Como poderei saber por que te olho assim quando todos os eventos fatídicos da minha vida e até mesmo o desejo deste eu tão pouco cultivado exige, EXIGE, olhar para tua janela de persianas quase sempre abertas?
Saber por que te olho assim?

- Eu não sei.

Você reprime o rosto, interpreta-me desinteressado, o elogio ansiado fora trocado por um coaxo e já descrente do meu sangue real não me beija, apenas vira a cabeça mostrando-me tuas guelras.
Lisa.
Mal sabes que para este convicto racional olhar algo sem saber o motivo é o maior lisonjeio passível de ser dado.
Não é analítico, nem contemplado.
É um olhar denso, quase arfado, tal como um lago escuro que reflete a própria imagem antes de atirarmos uma pequena pedra para tudo desaparecer.
E algo acontecer.

Autoria de Tiago André Vargas
Imagem de Janne Tuominen.

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