sábado, 16 de junho de 2012

Pedido de casamento em rede nacional


Tragou com o mesmo anseio que um desafogado. Assoprou toda a fumaça em sua cara enquanto ele fechava os olhos repugnantes de criança que experimenta rúcula pela segunda vez. Abriu os olhos. Disse:
- Qual é o teu problema?
- Que problema?
- Isso... Tudo... Qual é afinal?
- Eu não tenho nenhum problema... Além de você ser patético com estas perguntas de supermercado.
- Perguntas de supermercado?
- Porra... “Deseja mais alguma coisa?”, “Qual é o teu problema”, repetir minha última frase com uma interrogação no final... Me diz uma coisa agora, você já pensou qual é o teu problema?
- Eu não tenho problemas, eu os resolvo.
- Isso pode ser um problema.
Tragou novamente. Fumaça na cara. Rosto engelhado.
- Eu tenho um problema: Eu não sei por que gosto de você.
- Tente resolvê-lo então, você não é o senhor solução?
- Eu gosto de ti por que você é linda, por dentro e por fora.
Teve um ataque de risos. Rolou na cama com a mão pressionando a minúscula barriga enquanto os cabelos compridos se emaranhavam como notas de uma sinfonia sem maestro.
- Por que você está rindo?
- Ah... Você me mata, só isso.
As cores de suas tatuagens abrangiam as 27 do arco-íris. E ele teria que fazer aquela verde pergunta.
- E você... Sabe por que me ama?
- Eu nem te amo ô porra! Cê tá maluco? Acho que todo esse Way que você anda tomando está te prejudicando, brother.
Teve outro ataque de risos.
Ele lacrimejou um pouco e delineou um sorriso dissimulado.

Lá estava um homem que jamais faria um pedido de casamento em rede nacional. O mundo agradece mulheres como esta. Sem ironia. Brother.

Autoria de Tiago André Vargas
Fotografia de Sami.

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